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Disposição para consumir
Com boa disposição para ir às compras, as famílias darão um firme suporte à
recuperação da economia, nos próximos meses, se tiverem maior segurança quanto
ao emprego e continuarem confiando no governo. A disposição para consumir foi
evidenciada, mais que em meses anteriores, no movimento do comércio varejista
em novembro. Recém-divulgado, o balanço do mês apontou um volume de vendas
2,9% maior que o de outubro no varejo. Foi a maior alta para o período da série
iniciada em 2000. No ano, as vendas foram 2,5% maiores que as dos 11 meses
correspondentes de 2017. Apesar disso, as vendas ficaram 5,1% abaixo do pico
registrado em outubro de 2014, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Houve uma considerável melhora, desde o fim da recessão: em
dezembro de 2016, o volume comercializado foi 13,5% inferior ao ponto mais alto
da série. Apesar da reação, será preciso cobrir um amplo espaço para retornar ao
nível anterior à crise.
Os números de novembro, melhores que os previstos pelo mercado, são em boa
parte explicáveis pelas promoções da Black Friday, na avaliação de analistas do setor
privado e também da gerente da pesquisa mensal de comércio do IBGE, Isabella
Nunes. Mas o movimento da Black Friday foi bem maior que nos anos anteriores e
para dar conta dessa diferença é preciso recorrer a dados de outra ordem: a
melhora da conjuntura, a maior confiança dos consumidores depois das eleições e a
melhora do emprego, embora a desocupação ainda seja elevada.
O desemprego, pouco abaixo de 12% da força de trabalho, ainda inibe o consumo,
mas o aumento da ocupação, impulsionado principalmente pelo mercado informal,
contribui para movimentar a economia. A retomada, embora lenta, continua, e isso
é mais visível quando se examinam períodos de um ano ou mais longos.
O volume de vendas do varejo restrito foi 4,4% maior que o de novembro de 2017.
O acumulado em 12 meses foi 2,6% superior ao do período imediatamente anterior.
A recuperação é observada também quando se examinam os números do varejo
ampliado. No conceito básico, o comércio varejista inclui os segmentos de
combustíveis e lubrificantes, hiper e supermercados, móveis e eletrodomésticos,
artigos farmacêuticos e de perfumaria, livros, jornais, revistas e papelaria,
equipamentos e materiais para escritório e comunicação e outros artigos de uso
pessoal e doméstico. Acrescentando-se a esse conjunto o comércio de veículos,
motos, partes e peças e de materiais de construção, chega-se ao varejo ampliado.
As vendas do conjunto mais amplo foram em novembro 1,5% maiores que as de
outubro, em volume, e 5,8% superiores às de um ano antes. No ano, superaram por
5,4% as de janeiro a novembro de 2017 e em 12 meses acumularam crescimento de
5,5%.
A comparação das vendas do varejo ampliado com as de igual mês do ano anterior
apresentou a 18.ª taxa positiva numa sequência ininterrupta. Nesse confronto, as
maiores contribuições vieram de veículos, motos, partes e peças (+12,8%), de
hipermercados, supermercados, alimentos, bebidas e fumo (+3,1%) e de material de
construção (+1,4%).
Com ampla capacidade ociosa, a indústria poderá facilmente responder ao
crescimento da demanda nos próximos meses, se o governo for capaz de preservar
a confiança dos consumidores. Como o desemprego permanece muito alto, as
empresas poderão encontrar no mercado mão de obra suficiente para suas
necessidades. Maiores contratações também contribuirão para reforçar o consumo
de bens e serviços.
Com mais empregos e maior demanda, pressões inflacionárias tenderão a
aumentar, mas sem grandes efeitos a curto prazo. A inflação deve continuar
moderada neste e no próximo ano. Se isso se confirmar, os juros básicos poderão
ser mantidos em 6,50% durante boa parte do ano e em seguida subir
moderadamente. A confirmação desses bons prognósticos dependerá
principalmente do bom senso e da competência do novo governo.
Fonte: O Estado de S. Paulo