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Empresário Abílio Diniz: uma vida que rende dois livros

“Eu sou um comedor de espinafre, um grande comedor de espinafre. Já quis fazer uma tatuagem do Popeye no braço, mas minha filha Rafaela não deixou.” O fã do marinheiro mais famoso do mundo, capaz de derrubar qualquer adversário após comer a verdura, é Abilio Diniz, um dos empresários mais polêmicos do país, sobre quem, como ele mesmo diz, todo mundo tem uma opinião, conhecendo­o ou não.
Para este “À Mesa com Valor”, Abilio ­ que preside o conselho de administração da BRF, a maior exportadora de carne de frango do mundo, e é o terceiro maior acionista do Carrefour ­ reservou uma sala na sede da Península, a empresa que administra os negócios da família. No 15º andar do prédio de estilo neoclássico, instalado na esquina da avenida Brigadeiro Faria Lima com a rua Gabriel Monteiro da Silva, em São Paulo, o almoço começa pouco depois da 1h da tarde.
Na mesa, Abilio está acompanhado de dois assessores e senta­se entre as repórteres, a pedido da fotógrafa. Cada um recebeu uma água de coco e uma terrina de cubos de melão para a sobremesa. Em uma bancada ao lado, há saladas variadas, frango com molho de mel e alecrim e torta de verduras, encomendados ao bufê Effis­Fine Food for Fun, do chef Alê Saddy.
Comida e exercícios físicos são fundamentais na vida de Abilio, que em 28 de dezembro completa 80 anos. Ele, que não gosta de ser chamado de “senhor” e prefere o “você”, conta que deixou de praticar esportes e fazer exercícios três vezes por dia ­ passou a se exercitar duas horas pela manhã ­ por causa da filha mais nova. “Eu parei de jogar squash à noite quando Rafaela percebeu que eu existia.”
No caçula, Miguel, ele deu o primeiro banho em um filho, sem ajuda da mulher, Geyze, em uma viagem a Paris, na primavera de 2013. “Foi nossa primeira viagem com eles, sem babá. Não está entre minhas qualidades ser babá, e meus filhos mais velhos começaram a caçoar, dizendo que eu deveria dar banho também no meu outro filho, de 50 anos”, diz ele, rindo. No primeiro casamento, com Auri, Abilio teve quatro filhos, Ana Maria, João Paulo, Adriana e Pedro Paulo.
Fatos marcantes envolvendo a família e os negócios estão no livro “Novos Caminhos, Novas Escolhas”, lançado na semana passada pela Objetiva. Nele, Abilio diz que a coisa mais importante que lhe aconteceu nos últimos 12 anos ­ ele escreveu seu primeiro livro, “Caminhos e Escolhas”, em 2004 ­ foi ter conhecido e casado com Geyze, mãe de Rafaela e Miguel.
Também diz que seu maior erro empresarial foi o contrato assinado em 2005 com Jean­Charles Naouri, presidente do Casino, feito para reduzir o endividamento do Grupo Pão de Açúcar. Por causa desse contrato, Abilio entregou, em 2012, o controle da maior companhia de varejo do país, fundada por seu pai, ao sócio francês.
Ela faz o mea­culpa, sem constrangimento e com a voz firme. “O meu grande erro empresarial foi negligenciar o valor e a importância de um contrato”, diz Abilio, que na semana passada falou justamente sobre esse caso a seus alunos na Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo, onde dá aulas sobre gestão uma vez por mês. Logo no início do almoço, demora para tocar no prato de salada farta, figos e um pequeno pedaço de torta. Conta que, quando assinou o contrato, ficou “meio angustiado”. Então, voou a Paris.
“Eu e Jean­Charles conversamos, para garantir que nada mudaria. Eu deixei isso apenas conversado. Foi meu erro. Além disso, na época, me diziam: ‘você vai estar com 75 anos, deixa isso para lá’. Hoje sei que contrato tem que ser tratado à exaustão.”
No livro recém­lançado, Abilio também fala, pela primeira vez, em detalhes, como viu desmoronar a fusão entre o Grupo Pão de Açúcar e o Carrefour, que ele vinha costurando desde 2010. O empresário tinha certeza de que o negócio seria espetacular e, portanto, Naouri concordaria. Mas, quando as informações vazaram ao mercado, o Casino foi contra o negócio e as relações começaram a azedar. O BNDES, que iria financiar a operação, recuou.
A duas semanas de selar o acordo com o Carrefour, a segunda maior rede de comércio do mundo, só atrás do Walmart, o sonho de “disputar, e até vencer, o campeonato mundial” do varejo de alimentos começou a ruir. “Apanhei no Brasil e no exterior. Fui do céu ao inferno, sem escalas.”
Naouri convocou o conselho de administração do Casino, em Paris, e torpedeou formalmente a operação, na presença de Abilio. Irritado, o empresário brasileiro disse que os dois estavam perdendo o maior negócio de suas vidas e pediu uma saída para o impasse, sugerindo que deveriam acabar com a sociedade se isso fosse a melhor solução. Naouri assentiu.
“Vinte dias antes, eu tinha tudo engatilhado para ter dois sócios franceses poderosíssimos. Agora, eu não só tinha perdido o Carrefour, como caminhava para ficar sem o Casino […] Como foi que, aos 75 anos, com toda a minha experiência, consegui ser engolfado por esse tsunami?” Foi, então, que ele se lembrou dos ensinamentos do pai, que dizia: “Amarre tudo muito bem, nunca deixe pontas soltas”.
Suas arrogância e agressividade, amenizadas ao longo da vida, são creditadas à infância vivida na várzea do Glicério, região central de São Paulo, até hoje pobre e violenta. Baixinho e gordinho, era “saco de pancada” de gangues. O que o “salvou” foi a habilidade no futebol, as artes marciais, o boxe.
Emagreceu e ficou mais forte. “Passei a não admitir hipótese de derrota.”Julgava­se autossuficiente. “Eu não ligava a seta do Fusca, pois não tinha de prestar contas a ninguém de onde estava indo. E achava lindo dizer isso”, conta, rindo de si mesmo.
Perder a fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour abriu as portas para “um dos conflitos empresariais mais violentos do mundo dos últimos anos” com o Casino. Em 2011, no auge da disputa com o sócio, ouviu de três banqueiros, dos mais importantes do país, mas cujos nomes ele não revela, um conselho: nNão quebre o contrato” ­ ou seja, entregue o controle do GPA, pois é isso que está escrito. No livro, Abilio se pergunta “como será que esses senhores estão vendo as coisas hoje, cinco anos depois? O que acham da deterioração do Pão de Açúcar e do que estão fazendo na companhia, cujo valor das ações desabou diante da falta de seriedade da gestão do Casino?”.
Neste “À Mesa”, Abilio diz que gostaria de saber o que os banqueiros estão pensando dele. “A visão naquele tempo é que eu estava rompendo contrato. E como eu sempre fui muito agressivo, muito bem­sucedido nas coisas que fiz, se eu ia quebrar contrato, eu ia inovar. E inovar em contrato é uma complicação para todo mundo. É evidente que eu estava sendo muito malvisto.”
Depois da discussão com Naouri no conselho, Abilio levou dois anos para deixar o Pão de Açúcar ­ saiu em setembro de 2013. Demorou porque tinha duas condições: converter as ações ordinárias em preferenciais, para que pudessem ser vendidas, e liberdade para operar no varejo, se quisesse. “Eu não queria deixar lá o patrimônio que construí e queria a minha liberdade. Nós estamos competindo hoje, a vida segue.” Meses após entregar o controle, vendeu cada ação por R$ 108 (no lote final). Hoje, vale R$ 59.
O empresário, apesar de criticar a gestão atual do Pão de Açúcar e o tratamento que a empresa dá aos minoritários, conta que não guarda nenhuma mágoa de Naouri e o abraçaria, se o encontrasse. “Nós temos negócios conjuntos. E, afinal, trabalhamos juntos de 1999 a 2013, a maior parte do tempo, bem.”
Abilio é dono de 62 imóveis onde o GPA tem lojas instaladas, o que rende à Península um aluguel polpudo, estimado entre R$ 180 milhões e R$ 190 milhões ao ano. Sua fortuna, segundo a “Forbes”, era de US$ 3,4 bilhões em 2015, o que o coloca em nono lugar na lista de bilionários brasileiros. O mercado estima que a Península administre recursos, da família Diniz e de terceiros, no valor de R$ 12 bilhões.
O empresário, que faz análise há mais de 50 anos, com algumas interrupções, reconhece que se nos episódios mais complicados de sua vida empresarial “tivesse uma cabeça, não igual, mas mais parecida com a de hoje, a história seria completamente diferente”. Hoje, “eu tenho a cabeça muito mais voltada para a conciliação, para a negociação, para que as coisas caminhem bem. E não luta, luta, luta. Vencer ou vencer, que era como eu era naquele tempo”.
Ele não tem planos de se aposentar ou de se dedicar exclusivamente a um de seus três negócios: BRF, Carrefour ou Península. “Por que eu tenho que escolher? Eu sou muito feliz na Península, sou felicíssimo na BRF e estou fazendo um trabalho importante de reconstrução do Carrefour global.”
Abilio tem 8% das ações da rede francesa. É o terceiro maior acionista, atrás da família Moulin, dona da Galeries Lafayette, e de Bernard Arnault, que comanda o conglomerado de luxo LVMH. Depois de Abilio, vem o fundo de investimento Colony. Da operação brasileira do Carrefour, ele tem 12%, com direito a chegar a 16%. “Não sei se vou aumentar.” À matriz, onde tem assento no conselho de administração, ele já disse que não pretende ampliar sua fatia acionária de 8%.
Abilio resume a estratégia da Península, que tem escritórios abertos em Nova York e Luxemburgo: “Só entramos onde podemos participar da gestão. E tem que ser coisa atual, ou seja, não investimentos em siderurgia ou em loja de armarinhos”. Também avalia se o negócio tem potencial de expansão e se há possibilidade de unir­se a outras empresas do mesmo setor. Um exemplo é o grupo de ensino Anima, em que a Península tem 7,8% do capital e dois membros no conselho.
Há um fator que não depende diretamente de Abilio, mas que afeta o desempenho de seus negócios: o governo e a condução da economia. E sobre o nível de atividade deste ano, o empresário avalia que “concretamente, não há razão para comemorar”.
Desemprego alto e renda da população achatada têm levado algumas empresas de consumo, como BRF e outras, a registrar balanços trimestrais de pouco brilho. Mas o empresário observa que a “inflação está caindo, e vai cair ainda mais” e isso fará com que o poder aquisitivo aumente. “Acho que Ilan [Goldfajn, presidente do Banco Central] vai levar a inflação para o centro da meta. Ele está fazendo um bom trabalho.”

Fonte: Portal Valor Econômico

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