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Empresas da ‘velha’ economia imitam startups
A revolução digital mudou a forma de trabalhar das empresas da ‘velha’ economia.
Gigantes como Whirpool, Unilever, Natura e Vivo, por exemplo, tentam copiar o
modelo rápido e flexível das startups. A antiga rotina – na qual um projeto levava
meses e até anos para ser concluído e, quando terminava, muitas vezes já estava
ultrapassado – começa ser substituída por métodos mais ágeis, na velocidade da
economia digital.
A quantidade de empresas que começou a quebrar os muros que separam os seus
departamentos para obter resultados mais rápidos é crescente nos últimos dois
anos. Elas passaram a organizar os trabalhos em pequenos grupos de funcionários,
misturando diferentes áreas. Eles trabalham fisicamente lado a lado, sem barreiras
burocráticas ou de hierarquia. Com isso, conseguem resolver problemas ou colocar
um projeto de pé o mais rápido possível, ainda que não esteja 100% pronto.
Batizados de squads (esquadrão, em inglês), essa forma de organizar o trabalho em
pequenos grupos começou nos anos 2000, com a startup sueca Spotify, de serviço
de streaming de música. Virou referência no mundo da administração por causa dos
ganhos de produtividade alcançados que, a depender do caso, podem ser quatro
vezes maiores, se comparados ao de uma empresa tradicional.
O pulo do gato para conseguir esses resultados é a multidisciplinaridade dos grupos,
explica Carlos Felippe Cardoso, sócio-fundador da K21, uma das primeiras
consultorias especializadas em fazer essa transição de modelo nas empresas. Nos
grupos, como há redução de uma série de entraves burocráticos, ganha-se tempo e
produtividade.
Além disso, os resultados são entregues a conta-gotas. A cada 15 dias, por exemplo,
uma nova funcionalidade do site é colocada no mercado, no caso de projetos
digitais, onde essa forma de trabalho já é mais familiar. Isso permite que o projeto
seja testado e, se necessário, modificado, enquanto é feito.
Explosão
O jeito de trabalhar das startups vem ganhando a adesão de empresas dos mais
variados setores. “Neste ano, houve no País uma explosão, e quase todos os
segmentos de mercado têm empresas adotando ou, no mínimo, experimentando o
trabalho em squads”, diz Cardoso.
Desde fevereiro, a Whirpool, fabricante de eletrodomésticos, começou a trabalhar
com o novo modelo. Hoje, tem 50 funcionários agrupados em cinco grupos. Até
dezembro, quer dobrar esse número. “Não acho que a companhia inteira vá
trabalhar dessa forma”, diz o diretor de marketing digital, Renato Firmiano.
Como uma grande indústria, baseada nas formas tradicionais de linha de montagem,
a empresa decidiu usar squads nas áreas ligadas ao atendimento ao consumidor. E
alcançou resultados: em menos de quatro meses, dois grupos voltados ao tema
inteligência artificial puseram em prática projetos de um assistente virtual que
atende aos clientes em várias demandas e também vende os produtos.
Já a Natura, tradicional fabricante de cosméticos, começou antes. Em 2012, iniciou
um projeto-piloto, focado no canal online para as suas consultoras. Mas o modelo
ganhou velocidade no último ano, conta Luciano Abrantes, diretor de Inovação
Digital. Hoje, são 52 squads trabalhando, e a empresa quer chegar a 100 até
dezembro.
O grande salto ocorreu em 2018, quando a companhia passou a usar essa forma de
trabalho para desenvolver os cosméticos. “É algo arrojado, que acelera bastante o
ritmo de lançamentos, ao se comparar com o modelo tradicional.” O diretor
também pondera que não há intenção de transformar toda a companhia em squads,
só nas áreas onde faz sentido.
Na Unilever, gigante de alimentos e itens de higiene e limpeza, o quadro é
semelhante. A empresa começou a usar squads faz três anos. “Na época, tínhamos a
preocupação de trazer a agilidade das startups para uma empresa que neste ano
completa 90 anos no País”, diz Carolina Mazziero, diretora de RH. Atualmente, há
grupos de trabalho espalhados em áreas específicas da companhia. Na fábrica, por
exemplo, há squads voltados para a redução de perdas, outros são para resolver
demandas do consumidor.
Competição
Para Luiz Medici, vice-presidente de Inteligência Artificial da Vivo, o grande impulso
para começar a organizar o trabalho em squads veio das empresas digitais. A Vivo
viu a entrada de players digitais alcançando resultados muito rápidos e entendeu
que um dos catalisadores disso era a forma de trabalho em ambientes
colaborativos. “Para competir nesse mercado novo digital, precisamos nos
reinventar.” A operadora começou a usar grupos de trabalho em 2018, com o
laboratório digital. Agora, são mais de 100 squads em funcionamento.
Fonte: InfoMoney