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Endividamento: um grande desafio para o varejo
Após a aprovação, em primeiro turno na Câmara, da “PEC do teto dos gastos”, que limita o crescimento dos gastos públicos, parte do ajuste fiscal está encaminhado. Cheio de imperfeições e alvo de críticas mesmo daqueles que apoiam pesadas medidas para a contenção da dívida pública. O endividamento, porém, também é um grave problema do setor privado.
Recentemente, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) decidiu pelo corte de 0,25 pontos percentuais na taxa Selic, que agora se situa em 14% ao ano. Decisão necessária e correta: as altas taxas de juros seguem asfixiando o consumo e os investimentos – as taxas no crédito rotativo atingiu em agosto 475% à pessoa física e 354% à pessoa jurídica, segundo o Banco Central. Ou seja, financiar empréstimos e pagar dívidas sob essas taxas de juros inviabiliza o consumo e quaisquer negócios que requerem pesadas inversões de capital.
Ora, é natural que empresas e consumidores ainda estejam receosos para recorrer ao crédito: o desemprego segue crescendo e atingiu 11,8%, em agosto, e o volume de vendas do varejo caiu 5,5% no mesmo mês, segundo o IBGE. O arrefecimento da inflação em setembro (0,08%), ainda conforme a instituição, reflete, em parte, o fraco consumo (além de efeitos sazonais benéficos do nível de preços dos alimentos).
Segundo pesquisa do SPC Brasil e da CNDL realizada entre agosto e setembro deste ano, 85,2% de empresários consultados não pretendem contratar crédito nos próximos três meses, ou porque conseguem sustentar seus negócios com recursos próprios (37,6%), ou porque não querem tomar empréstimos em função das ainda altas taxas de juros (21,7%). E a confiança, que crescia e insuflava ânimo aos agentes?
O otimismo está perdendo força, segundo a FGV: em setembro, o crescimento das expectativas do comércio pouco cresceu e, na série com ajuste sazonal (isto é, livre dos efeitos de calendário), a confiança caiu novamente.
Ou seja, o aumento da confiança averiguado anteriormente decorreu mais do momento político do que da realidade econômica de fato. Ademais, a recente prisão do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha é um fator político de peso que abalou o governo e os políticos de Brasília, e que pode colocar em risco a aprovação definitiva da PEC 241 e a necessária reforma da Previdência. Novamente, a política dará a tônica do cenário econômico, em momento tão delicado e com reformas urgentes na pauta.
Em um cenário político e econômico ainda conturbado e sem sinais reais de recuperação concreta, o endividamento do setor privado tem pesado profundamente. Cresceu o endividamento corporativo, houve queda no retorno sobre ativos e o fluxo de caixa segue insuficiente. As empresas, no momento, devem se preocupar em aliviar seu fluxo de caixa para não se tornarem insolventes.
O Brasil caminha para a recuperação econômica, porém, a passos lentos e claudicantes, e com as reformas necessárias em risco por causa do contexto político. O desemprego ainda crescerá, impactando o consumo e, por consequência, a performance varejista. O que o varejo deve ter como foco no momento é manter saudável seu fluxo de caixa e não recorrer ao crédito, de modo a evitar o endividamento e a asfixia financeira. Antes de dependerem do governo e de medidas que balançam aos dissabores do Congresso, os empresários devem sanear suas finanças.
*Eduardo Bueno é economista do Centro de Inteligência Padrão (CIP).
Fonte: Portal No Varejo