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Impacto ambiental ganha força na decisão de compra
Embora se fale um pouco mais sobre sustentabilidade hoje, muitos varejistas, fabricantes e consumidores ainda não fazem ideia do que adotar, na prática, para ajudar a conservar o que resta do meio ambiente. Portanto, ainda há muito a percorrer neste caminho, de ambas as partes.
Sabe aquela história de “uma coisa é a prática e a outra é a teoria?” Existe, por exemplo, uma lacuna entre o que os consumidores pensam que sabem e o que realmente sabem sobre sustentabilidade. O novo relatório do Capgemini Research Institute, divulgado em Paris (França), examinou exatamente esse impacto da sustentabilidade nos padrões de compra do consumidor e como as organizações de produtos de consumo e varejo (CPR) entendem as expectativas do shopper.
Com o título “Consumer Products and Retail: How sustainability is fundamentally changing consumer preferences” (tradução livre: “Produtos de consumo e varejo: como a sustentabilidade está mudando fundamentalmente as preferências do consumidor”), o relatório mostra que 78% dos consumidores não sabem que são necessários mil litros de água para produzir uma barra de chocolate, e 68% não estão cientes de que um hambúrguer médio resulta em mais emissões do que dirigir 15 km em um carro grande.
No caso das corporações, o estudo revelou também que os varejistas e fabricantes seguem pelo mesmo desencontro de informações: 65% dos executivos dizem que seus consumidores estão muito cientes de suas iniciativas de sustentabilidade, mas 49% dos consumidores dizem não ter nenhuma informação para verificar as afirmações de sustentabilidade dos produtos, e 44% relatam inclusive que não confiam nas afirmações de sustentabilidade dos itens.
Por outro lado, a pesquisa concluiu que a sustentabilidade já faz parte dos critérios avaliados pelos consumidores: 79% deles estão mudando suas preferências de compra com base na responsabilidade social, inclusão ou impacto ambiental.
Além disso, quase 68% dos consumidores que compraram os produtos comuns estão dispostos a adquirir um outro, mais sustentável, depois que foram informados sobre as questões de sustentabilidade. Isso destaca a necessidade de que mais informações relacionadas à sustentabilidade estejam disponíveis para os consumidores e reforça a importância das marcas na condução da agenda da sustentabilidade.
Para compor o relatório foram entrevistados 7.500 consumidores em todo o mundo, como forma de entender as suas preferências, comportamentos e expectativas sobre sustentabilidade. Além disso, 750 executivos seniores de vários subsetores também foram ouvidos, com o objetivo de obter mais informações sobre maturidade, prioridades e perspectivas de sustentabilidade.
Cenário do “novo normal”
É claro que a pandemia tem contribuído com o aumento dessa consciência do consumidor e o compromisso de comprar de forma mais sustentável. Um exemplo disso é que para o “novo normal”, 67% dos entrevistados disseram que pretendem ser mais cautelosos com a escassez dos recursos naturais, por conta da crise, e 65% procurarão ser mais cuidadosos com o impacto do seu consumo geral.
Ou seja, as preocupações atuais com a sustentabilidade já estão influenciando no comportamento do consumidor, em mais da metade da população: 53% deles no geral e 57%, na faixa etária entre 18 a 24 anos, decidiram mudar para as marcas menos conhecidas porque eram sustentáveis.
Mais da metade dos entrevistados (52%) também afirma que passou a compartilhar uma conexão emocional com os produtos ou organizações que consideram sustentáveis. Neste sentido, 64% afirmam inclusive que comprar os produtos sustentáveis os deixam felizes com as compras (a faixa etária de 25 a 35 anos chega a 72%).
As organizações de CPR também entendem os benefícios que a sustentabilidade tem em seus relacionamentos com os clientes: 77% delas dizem que a sustentabilidade leva a aumentos na fidelidade do cliente, e 63% alega que isso aumenta inclusive a receita da marca.
As grandes dificuldades das organizações
Pelos resultados obtidos é como se grande parte das empresas ainda tivessem apenas “arranhando a superfície” desse tema tão debatido ultimamente por outros países, por conta da Amazônia, por exemplo.
Quase 80% das organizações mencionaram o impacto sobre as margens ou estouros de custo como um desafio para dimensionar as iniciativas de sustentabilidade, e para quase três em cada quatro organizações, outras questões têm mais prioridade.
Três em cada quatro (75%) organizações de CPR também afirmam ter uma estratégia, infraestrutura e recursos disponíveis para impulsionar os esforços de sustentabilidade e economia circular. No entanto, quando se trata de implementar essas iniciativas de impacto em toda a empresa, menos de um quarto delas consegue fazer isso.
As iniciativas mais conhecidas são as políticas de trabalho mais justas e em condições seguras, com 48% das organizações afirmando ter alcançado escala nessas áreas. E em contraste, a TI sustentável, que envolve a redução do impacto da pegada digital (como eficiência de energia em data centers), está sendo dimensionada em apenas 18%. Ou seja, apesar da pandemia trazer um foco renovado na economia circular, apenas 18% dos executivos investiu em iniciativas de economia circular e 35% planejam investir nesta área, nos próximos três anos.
Para Pia Heidenmark Cook, diretora de sustentabilidade do Ingka Group, o grande desafio está no gerenciamento de mudanças. “Uma percepção que muitas organizações têm é de que a sustentabilidade é mais cara. No entanto, eles não percebem que iniciativas como redução de resíduos ou eficiência energética reduzirão seus custos operacionais. Então, eu diria que o principal desafio que impede a sustentabilidade é a gestão da mudança – mostrar o caso de negócios, por que faz sentido e influenciar e inspirar as pessoas a entender por que isso faz a diferença”, conclui.
Fonte: Super Varejo