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Jogar parado: porque isso é tão comum no Brasil

Dizia-se do saudoso Coutinho, atacante do Santos que formou memorável dupla de ataque com Pelé na década de 60, que conhecia todos os atalhos da grande área. São célebres e saborosas as histórias que contam como Coutinho, incrivelmente habilidoso, mas cerebral e exímio finalizador, estava sempre no lugar certo na hora certa para, com um ou dois toques na pelota, estufar a rede adversária. Tal fama o habilidoso atacante construiu mais ao final da carreira, quando os joelhos e o peso já escapavam de seu controle.

A exemplo de Coutinho, Romário, em fim de carreira, Tulio e Dadá Maravilha e outros tantos, foram mestres na arte de “jogar parado”. Pouco participavam da dinâmica do jogo, mas muitas vezes resolviam partidas simplesmente com poucos – e decisivos – toques na bola. Esse “estilo de jogo” parece impensável nos dias de hoje, muito mais veloz, intenso e de ocupação de espaços.

O jogo de futebol, tal e qual outros esportes, espelha o momento e incorpora as mudanças que atingem a sociedade, o mercado e comportamento. Organização em linhas, construção de jogo, estratégia, versatilidade tática são termos do jogo que se aplicam facilmente à realidade das empresas. Os 7×1 de triste memória, que a Alemanha aplicou na seleção brasileira dias antes de se consagrar campeã mundial revelaram não apenas o quanto nossa ideia de jogo estava defasada, mas também, extrapolando as quatro linhas, nossa leitura do mundo.

Mundo veloz

Desde então, ainda nos perguntamos se o futebol brasileiro evoluiu, assim como olhamos para o nosso mercado corporativo e questionamos se nossas empresas hoje estão melhorando o seu jogo. Isso porque, pandemia à parte, a digitalização que obrigou quase que a totalidade dos negócios a buscarem alguma forma de atuação on-line, ainda não desfez velhos vícios. Assim como o jogo acelerou, acompanhando a dinâmica de nossos tempos, o mercado corporativo ganhou velocidade e muda com rapidez vertiginosa.

A síndrome de Coutinho ainda está presente no panorama de nossas empresas. Muitas delas, ainda que invistam em tecnologia, ou que reconheçam que o perfil e o ambiente de negócios estão mudando, preferem mesmo é “jogar parado”. Os problemas dessa escolha são vários, a começar pelo fato de que nem toda empresa é tão genial e minimalista quanto o ex-atacante do Santos, capazes de tomar decisões rapidamente e de antecipar os movimentos dos adversários para resolver lances de forma precisa e efetiva.

A velocidade do mercado, potencializada pelos consumidores mais digitalizados e mais exigentes faz com que os espaços sejam ocupados de forma muito densa, sem espaço ou tempo de reflexão. O processo de decisão traz mais pressão, os dados à disposição são abundantes – e na maioria das vezes desestruturados – e o atendimento ao cliente é crescentemente complexo.

Por isso, as empresas precisam também aprender a ser mais ágeis, “tocar mais de primeira”, de forma objetiva sem longas e improdutivas trocas de bola. Faz mais sentido ser agudo, incisivo, acelerando o jogo para ganhar espaços e sobrepujar a competição. “Jogar parado” é uma expressão que ganhou um apelido jocoso: “ficar na banheira”, como se o atleta estivesse tão solitário quanto na hora do banho. Toda empresa adoraria jogar sozinha, “na banheira”, mas salvo em mercados monopolistas, essa realidade é inexistente.

A importância da ação

Utilizar metodologias ágeis é uma forma de inocular um espírito mais coletivo e mais vibrante para as organizações. Mas depende da liderança – os técnicos – respaldarem o jogo coletivo e o enxergarem como forma de responderem aos movimentos do mercado sem esperar que a situação se resolva por si só.

O momento, mais do que nunca, é de empresas protagonistas, que gostam e se habilitam a participar do jogo, desde a sua construção e que procuram atingir seus objetivos com foco, concentração, preparo, fôlego e capacidade de adaptação. Fatores que permitam aos talentos criarem novas formas de desequilibrar os oponentes e encantar os consumidores.

Infelizmente, já não há mais espaço para quem joga parado. Muito do romantismo do jogo bonito e da empresa imperturbável e constante são joias do passado que não têm mais valor de face. O consumidor não espera, nem na arquibancada (por ora vazia, dada a pandemia), nem no mercado.

O desafio mais complexo para as lideranças atualmente é criar uma cultura de decisão acelerada, utilizando o que se tem à disposição para atingir os resultados mais ambiciosos. Quem quiser jogar parado precisa esperar sentado.  Do contrário, vai cansar de esperar uma bola que não vai chegar.

* Por Jacques Meir, publicitário e diretor-executivo de Conhecimento do Grupo Padrão.

 

Fonte: Consumidor Moderno

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