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Os exemplos do Brasil em inovação no varejo
Inovação é um assunto que constantemente trato em meus artigos por aqui.
Coordenando os Study Tours que realizamos aqui no Grupo GS& Gouvêa de Souza,
tenho sempre um duplo sentimento de alegria e preocupação, considerando alegria
em ver o quanto alguns varejistas brasileiros estão conseguindo implantar inovação
em seus negócios e conseguir colher resultados, e ao mesmo tempo, sentindo
preocupação, verificando o quão distante essa inovação parece estar da maioria dos
negócios, não por questão de investimento ou capacidade, mas apenas
conhecimento.
Dos aprendizados que tiramos nesses roteiros, fica claro que inovação hoje não é
pirotecnia. Não adianta colocar uma série de telas, ou qualquer outro tipo de
hardware ou se abastecer de uma tonelada de novos aplicativos, se não houver
necessidade, se de fato, a tecnologia não for aplicada como meio para se atingir
novos e importantes resultados.
Nas visitas que temos realizado nos roteiros desse ano, é incrível o trabalho
realizado pelo pessoal da Pernambucanas, um novo benchmark não somente pela
belíssima jornada digital construída através de seu aplicativo, possibilitando até
mesmo uma cesta de descontos e um clube especial de vantagens, como sendo uma
empresa que tem expandido para todas suas unidades todas as inovações que se
propõe a colocar em prática.
Self-checkout da Onofre na Avenida Paulista
Lojas como a nova Onofre da Avenida Paulista, a nova Hering do Shopping Morumbi
e o Carrefour Pamplona mostram que o consumidor não somente está apto a novas
tecnologias, como essas podem ter uma demanda até mesmo maior do que se
imagina.
Na Onofre da Avenida Paulista, por exemplo, cerca de 80% das vendas já são
realizadas nos caixas de autoatendimento, algo similar ao que foi visto durante
nossa visita ao Carrefour Pamplona, onde mesmo em uma calma manhã,
consumidores preferiam passar suas compras de conveniência no autoatendimento
do que no checkout tradicional. Embora já tenha sido testada no passado, por
outros players, talvez essa seja a tecnologia certa, na época certa, para o público
certo.
Porém, nem somente de tecnologia vive a inovação. Posicionamento de mercado,
qualidade de serviços e, principalmente, a valorização da importância da equipe de
vendas e atendimento tem sido grandes armas na conquista de novos
consumidores.
Estar em uma loja da Sodimac é verificar além de um sortimento incrível, um nível
de serviços pouco visto até hoje, 100% focado no cliente. Em uma das visitas nos
confessaram que chegaram até mesmo a trocar um produto de marca própria do
concorrente para atender bem e não perder o cliente, dando um desconto de valor
igual ao produto na compra seguinte. Poucas empresas se arriscariam ou teriam um
processo que permitiria tal liberdade.
Interior de loja da Zôdio
Empresas como Kiabi ou Zôdio mostraram em nossas visitas que vieram ao Brasil
com um posicionamento diferenciado, dispostas a ganharem uma importante fatia
do mercado. Enquanto a francesa Kiabi, do grupo da Decathlon, traz uma proposta
de moda com preço baixo com boa qualidade, criando um frisson inicial similar ao
início da Zara no Brasil, a também francesa Zôdio, do mesmo grupo da Leroy Merlin,
vem com uma proposta que a define de uma forma incrível. Se a Obramax (do
mesmo grupo, e que também iniciou recentemente sua operação no Brasil) seria a
obra, e a Leroy seria o acabamento e decoração da casa, a Zôdio seria a vida da casa,
apresentando produtos e serviços para as pessoas “usarem” suas casas, com itens
inusitados em um mesmo mix como panelas, aromas, artesanato, entre outros.
Propósito também é o que não falta às marcas Zissou e Owme. A Zissou vem com
uma proposta de ser uma “empresa de sono”, disposta a oferecer um modelo único
de colchão e travesseiro, com variações apenas em tamanho, mas com uma
proposta única de compra e experiência. Para testar, além de 100 dias de uso, eles
oferecem na Casa Zissou, na região do Jardins em São Paulo, até mesmo um
pequeno cômodo, para um “test-drive” do colchão, com música e iluminação
aconchegantes. A Owme, marca nova do Grupo Arezzo, oferece produtos que
nasceram a partir de um conceito trabalhado durante mais de dois anos, através de
pesquisas e treinamentos, trazendo produtos confortáveis, mas com apelo a
questões como sustentabilidade e diversidade. Deu gosto ver como os funcionários
falavam com enorme prazer sobre a marca e seus diferenciais. Mais do que
acreditar no que diziam, era nítido que viviam o que estavam dizendo.
Detalhe da loja da Estrela Beauty
Outro ponto de inovação está na experiência, e é impossível não falar de
experiência sem citar os incríveis cases da Estrela Beauty e das megastores da Cacau
Show. A Estrela, conhecida pelos brinquedos, surpreendeu a todos nesse ano,
lançando seu modelo de loja de maquiagem para o público infanto-juvenil, a Estrela
Beauty, no Morumbi Shopping.
Atendentes apaixonadas pelos produtos, ambiente de loja incrivelmente lúdico e
“instagramável”, e uma experiência convidativa para pais e filhos. Estava pronta
uma fórmula que não somente deu certo, como deu origem à uma segunda loja,
aberta no Shopping Anália Franco (SP).
No caso da Cacau Show, da surpreendente nova sede da Cacau Show, às margens da
Rodovia Castelo Branco, próximo à São Paulo, nasceu o modelo da primeira
megastore da marca, simulando uma verdadeira fábrica de chocolates, incluindo até
mesmo um pequeno parque, se tornando um ponto de turismo aos finais de
semana, onde chegaram a atrair mais de 2.000 pessoas em um único sábado.
O sucesso foi tão grande que o modelo deu origem à segunda megastore da rede,
aberta no final de agosto, e que carrega ainda mais novidades, como uma versão
mais digitalizada de um novo conceito de sua cafeteria e elementos de arquitetura e
decoração baseados na nova sede, além de produtos e serviços exclusivos. Algo que
deu tão certo, que a marca já projeta um bom número de novas unidades nesse
formato ao longo do próximo ano.
Ficou claro em nossos Study Tours durante 2018 o quanto já está sendo executado
em inovação no Brasil, e já apresentando resultados, justificando a necessidade das
empresas buscarem mais oportunidades e novos caminhos. Inovação não se trata
mais de oportunidade, e sim, de demanda.
* Caio Camargo é sócio-diretor da GS&UP, potencializadora de Negócios do Grupo
GS& Gouvêa de Souza
Fonte: Portal Newtrade