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‘Seja você mesmo’ vira regra nas empresas
A pergunta “com que roupa eu vou?”, tema de um dos maiores sucessos do sambista Noel Rosa
no carnaval de 1930, deixou de ser uma preocupação para grande parte das pessoas na hora de se
apresentar ao trabalho. É crescente, nos últimos dois anos, o número de grandes companhias que
aboliram o código de vestimenta e estilo e adotaram uma única regra: venha como você é – o que
pode incluir tatuagem, piercing e cabelos exóticos.
Inspirado nas empresas de tecnologia do Vale do Silício (EUA), onde predomina a informalidade
justamente para atrair jovens talentos e facilitar o processo de inovação, o movimento se espalha
hoje entre companhias tradicionais de diferentes setores. Até os bancos – tradicionalmente um
reduto mais formal – entraram nessa onda.
Quem circula pelos corredores da sede do Itaú Unibanco, no Jabaquara (SP), por exemplo, vê
funcionários com estilos diferentes de se vestir, de todas as faixas etárias e cargos. “A gente não
tirou o terno e substituiu pela bermuda”, diz Valéria Marreto, diretora de RH. Desde 2018, o banco
deu liberdade para que os quase 100 mil funcionários se apresentem ao trabalho como eles são,
mas observando o bom senso. Segundo ela, o fim da política de vestimenta é a peça de um projeto
maior da transformação do ambiente de trabalho do banco, iniciado três anos atrás, para
acompanhar a evolução da sociedade.
Na rede de fast-food McDonald’s, o sanduíche Big Mac pode ser igual em todos os cantos do
mundo, mas não a atitude dos funcionários. No Brasil, do uniforme ao script na hora de oferecer o
cardápio, cada empregado mostra sua cara. “Estávamos ficando para trás e, desde 2015,
passamos a possibilitar que as pessoas colocassem mais coração nesse atendimento, que fossem
mais elas mesmas”, diz o presidente, Paulo Camargo. A mudança teve reflexos no absenteísmo
dos 50 mil funcionários, que caiu 75% em 4 anos, e na rotatividade, que recuou 50%.
A IBM foi outra empresa que decretou, em março de 2017, o fim da política de vestimenta. “Cada
um vem como se sente bem, sabendo que está num ambiente de trabalho”, diz Christiane
Berlinck, diretora de RH. Segundo ela, a produtividade dos funcionários aumentou e isso pode ser
notado pelo maior envolvimento. “Quanto mais engajados, mais produtivos os funcionários são e
mais negócios a gente gera.
“Na Totvs, do setor de tecnologia, 70% dos 7,5 mil funcionários nasceram após 1980 e são das
gerações Y ou Z. “Eles não procuram um emprego, querem trabalhar, sentir-se bem, ter um
propósito”, diz Rita Pellegrino, diretora de RH. Desde 2016, a empresa aboliu as regras de
vestimenta, inspirada nas empresas do Vale do Silício, que, na opinião de Rita, foram sensíveis ao
concluir que tanto faz se o funcionário usa terno ou bermuda: o importante é o que ele entrega no
fim do dia. “Estamos diante de uma tendência crescente de informalidade”, afirma Glória Kalil,
consultora de moda. Ao contrário do passado, quando a vestimenta indicava a classe social, hoje,
diz ela, as pessoas se vestem para expressar a sua personalidade. As empresas, que precisam
dessa mão de obra, sem alternativa, estão mudando.
Fonte: Época Negócios